quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Esmeralda - Capítulo 4

O dia seguinte amanheceu tão lindo, do tipo que dava um prazer a mais em estar vivo. Olhando o sol entrar pelas cortinas do quarto, Esmeralda ficou pensando em como era bom se sentir assim, essa felicidade que mal cabia no peito. Como era bom estar amando, ou pelo menos era isso o que pensava ser.
- Bom dia, passarinho. - Ricardo disse para a filha que já preparava a primeira refeição do dia - Acordou disposta hoje?
- Sim. - respondeu sorrindo.
- Algo diferente?
- Não, só que eu estou... - deixou um suspiro escapar.
- Feliz?
- É... - deu um belo sorriso ao seu pai que devolveu. Ela terminou o café e, enquanto juntava os objetos à mesa, ponderou pedir um conselho. Queria tanto dividir o que sentia com alguém, explodir de felicidade ao menos um instante. E se perguntasse com o foco em outra coisa, talvez? - Pai, como foi quando o senhor e a mamãe... Se apaixonaram?
- Bem, essa é realmente uma história interessante... - respondeu, fazendo careta de incômodo enquanto se sentava na cadeira de balanço no canto da cozinha. Só naquele momento Esmeralda reparou no enorme cobertor que ele trazia consigo, cobrindo-o quase completamente, deixando apenas a cabeça de fora.
- Pai, está tudo bem?
- Sim, só preciso de uma boa xícara de café.
- Claro.

Enquanto ela preparava o pedido de seu pai, o mesmo começava a sentir que as pontadas em seu peito estavam piorando. Ricardo deu uma última observada em sua filha, era o maior tesouro que tinha. Então aconteceu, o peito doeu outra vez, ele tentou aguentar, mas a fisgada foi forte demais e levou seu corpo desmaiado ao chão.
Esmeralda deixou a xícara cair e quebrar com café no chão, gritou alto, correndo até seu pai desacordado.
- Pai, por favor... Por favor, pai, acorda.

Isabela, ouvindo tudo de seu quarto correu para ver o que havia acontecido. Ficou com o corpo do marido, ordenando à filha que chamasse por ajuda. Ela foi até o médico da vila, que fez tudo o que pôde, mas nada adiantou, Ricardo havia falecido.
Inconsoladas, mãe e filha ficaram dias de luto trancadas dentro de casa. Nenhuma das duas sentia ânimo para nada, contudo, os mantimentos da casa estavam acabando, e haviam os impostos. Ricardo era quem cuidava de tudo, e agora com sua ida, algo precisava ser feito.
Depois do quinto dia, no crepúsculo, Isabela encarava os belos olhos de sua filha à pouca luz, herdados do marido.
- Tem os olhos dele... Ele... Nós te amamos tanto...
- Também amo vocês... Mãe, o que vamos fazer agora? O papai me ensinou os negócios dele, mas não posso tocar, não como ele fazia e não sozinha.

Sua mãe respirou fundo, sabendo que estaria desrespeitando o desejo do falecido marido.
- Sinto muito, Esmeralda, mas você vai ter de se casar.

Um aperto no peito surgiu dentro da menina que, só naquele momento parou para se perguntar: onde estava Luciano?

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Esmeralda - Capítulo 3

Haviam muitos festejos naquela vila, os aldeões gostavam de ao menos se reunir em volta de uma fogueira uma vez na semana. Esmeralda ia a quase todos com o pai, para ele era uma honra aos velhos tempos como cigano. Para ela, uma amostra grátis da vida e liberdade.
Passou seu dia ajudando a enfeitar as casas com flores de papel e confeites coloridos, brincando com as crianças enquanto deixava tudo mais bonito para o que haveria à noite. E quando o sol começasse a se pôr ela só precisaria descansar um pouco e se preparar para o que haveria a seguir, mas, entre uma flor e outra nas paredes, uma figura surgiu ao seu lado. Usando simples vestes de camponês surradas, com cabelos cacheados e escuros e dono de belos olhos azuis como a noite, o moço da fogueira, e que estivera na sua casa dias antes, apareceu.
Notando o claro espanto da moça, Luciano desacelerou os passos, se aproximando devagar, sorrindo, tirou a boina para cumprimentá-la adequadamente.
- Boa noite, senhorita. Meu nome é Luciano Benacci, é um imenso prazer conhecê-la... Finalmente.
- És o moço que... Me observava dançar.
- Sim... - sorriu mais uma vez, tímido.

Ela não sabia muito bem o que dizer, o que saberia sobre rapazes? Sua mãe, na promessa de casá-la com um homem rico jamais a ensinara nada sobre romances, ou cortejos. Se é que isto era um cortejo.
- Esmeralda D' Anniballe. Muito prazer. - sorriu levemente, oferecendo a mão, que ele aceitou, pousando um leve beijo.
- Tem belos olhos, senhorita. Vejo o porquê de tal nome.
- Obrigada. - seu rosto se avermelhou imediatamente, enquanto ela sorria.

Nenhum dos dois sabia o que dizer a seguir, nenhum dos dois queria estragar o que quer que seja prestes a começar, mas não bastasse isso, as pessoas ao redor começaram a reparar. Uma moça solteira falando com um homem que não fosse familiar naquele tempo não era bem visto.
- Se puder, me encontre mais tarde no bosque, perto do riacho, quando o festejo acabar. - ele disse, e havia animação em seus olhos - Estarei à sua espera. Boa noite, senhorita. - se curvou outra vez e se retirou, deixando-a com seus pensamentos.

Esmeralda mal podia aguentar o frio intenso na barriga. Mas conseguiu aproveitar as alegrias da noite mesmo assim, todos estavam tão belos e sorridentes, que nem viram problemas em ela gastar toda sua energia dançando sem parar, dissipando a ansiedade fora do corpo.
Quando começaram a retirar os enfeites, a exaustão chegando, ela se lembrou do encontro que havia marcado, como um grande estalo na mente. Olhou ao redor, procurando seu pai e sua mãe, vendo que ambos estavam distraídos, deu breves passos para trás, atenta para que ninguém notasse seus movimentos, escondendo as mãos às costas enquanto se afastava devagar. Vendo-se distante o suficiente, começou a correr para o bosque, que não ficava longe.
Chegando lá, vendo o quanto o ambiente estava escuro, começou a perceber como aquilo era perigoso, ainda mais para uma jovem sozinha. Mas respirou fundo e continuou procurando por Luciano. Viu uma silhueta masculina sentada só, à beira do riacho, que começava a ganhar tons violetas com o amanhecer se aproximando. Ela deu alguns passos à frente, receosa.
- Olá.

Luciano, ao virar-se, mal podia acreditar que era mesmo ela que estava ali, ou estava ficando louco de vez. Mas não pôde deixar de sorrir.
- Você veio. - ele se levantou e foi ao seu encontro.
- Eu não sei se deveria... Meus pais...
- Não irão gostar, eu sei. Mas fico feliz que o tenha feito mesmo assim.

Outro minuto de silêncio em que ninguém tinha ideia do que dizer, o que era estranho para ele, tão acostumado a encantar jovens e belas moças por aí. Esmeralda não era como as outras, mesmo que houvesse malícia oculta, ele não conseguia se sentir da mesma maneira com ela, possuía essa inocência e delicadeza no olhar, despertando seu instinto protetor. Ele não queria desfrutar dela, queria cuidá-la, protegê-la.
- Seu pai é muito bom no que faz. - disse, finalmente quebrando o silêncio - Ele me ajudou muito com algumas peças da minha casa.
- Ele é, realmente. Me ensinou muito do que sabe, e hoje o ajudo na marcenaria.
- Você trabalha com ele?
- Sim.

Ele assentiu, sem saber bem como continuar, olhou ao redor.
- Já veio por aqui antes? - perguntou, vendo ela sorrir timidamente.
- Nunca, meu pai diz que não é seguro.
- E ele tem certa razão.

Ao longe Esmeralda viu um grupo de flores coloridas, próximas ao riacho e algumas árvores, e se aproximou.
- Tão lindas, minha mãe adorar podar. - sentou-se ao lado, tocando algumas pétalas.
- São mesmo. - ele fez o mesmo, olhando-a. Quando esta percebeu, ruborizou o rosto.
- Por que me olhas assim?
- Você é... - com as pontas de seus dedos ele tocou o rosto dela, puxando o delicado queixo para si.

O beijo que se seguiu não teve pressa, nem fome. Apenas aconteceu. Ele sentia os lábios dela com toda paciência do mundo, como se qualquer movimento brusco fosse quebrá-la inteiramente. Ela sentia aquela maciez molhada, um pouco estranha até. A intimidade do ato a deixava sem saber como agir, como corresponder. Mas ela gostou, deixando-o levá-la lentamente, envolvê-la, coração dos dois bombeando essa energia nova.
Ninguém queria parar, ele puxou a cintura dela, posicionando-os de joelhos, as mãos acariciando-a devagar. Ela permanecia quase parada, sem saber como retribuir e nem se queria que parasse.
- Esmeralda!
- Filha!

Eram seus pais, ela se separou de Luciano rapidamente, respirando aos ofegos.
- Eu preciso ir, agora. - disse, tentando se levantar, mas ele puxou seu pulso.
- Quando vou te ver outra vez?
- Sabe onde me encontrar. - sorriu, deixando um último beijo, para correr a plenos pulmões de volta para a vila, torcendo que seus pais não notassem a mudança no interior da filha.
 renata massa